Conheça as cortadeiras


 Formigas cortadeiras



As formigas cortadeiras são formigas que utilizam vegetais para cultivar o fungo do qual se alimentam. São insetos da família Formicidae (que reúne todas as formigas) e pertencem à subfamília Myrmicinae - Tribo Attini.

As formigas cortadeiras pertencem a dois gêneros cultivadoras de fungos: as do gênero Atta (saúvas) e as do gênero Acromyrmex (quenquéns).

Ambas podem cortar plantas monocotiledôneas (folhas estreitas) como o milho e a cana-de-açúcar e, também, as plantas dicotiledôneas (folhas largas) como eucaliptos cítrus, seringueiras e outras. Por isso, elas causam sérios danos às culturas.


Diferença entre saúvas (Atta) e quenquéns (Acromyrmex)

As formigas cortadeiras do gênero Atta (saúvas) possuem 3 pares de espinhos no dorso do tórax.
Já as formigas do gênero Acromyrmex (quenquéns) têm 4 ou 5 pares de espinhos no dorso e, além disso, o seu dorso do gáster (parte do abdômen) é mais rugoso que o das saúvas.

Polimorfismo
Soldados do gênero Atta são maiores - Nas colônias de saúvas, encontramos operárias de 2 mm a 1,5 cm de comprimento. As grandes são chamadas de soldados e, tecnicamente, essa grande diferença entre formigas é chamada de polimorfismo. 


As quenquéns são menores - As quenquéns são menos polimórficas e, nas suas colônias, não se encontram formigas de tamanhos tão distintos. Suas operárias, por exemplo, são menores que as da saúva, na média. Outra diferença: entre as quenquéns, não existe a casta dos soldados.

Rainha
A rainha das quenquéns é 10 vezes mais pesada que uma operária média. Já entre as saúvas, a rainha pesa 50 vezes mais que uma operária média.

Ninhos
Os ninhos da Acromyrmex (quenquéns) são menores que os ninhos da Atta (saúvas). Normalmente os ninhos de saúva possuem grande quantidade de terra solta no exterior, geralmente mais de 50m². 
Em contrapartida, os ninhos de quenquéns não ultrapassam 5 m² de superfície de terra solta. Internamente os ninhos de saúvas podem possuir até 8.000 câmaras de cultivo de fungo, com profundidade de até 8 metros. Por outro lado, os ninhos de quenquéns são bem menores, com 5 câmaras no máximo e podem atingir até 2 metros de profundidade. 

Os ninhos de quenquéns podem abrigar populações de até 175.000 indivíduos, enquanto os ninhos de saúvas alcançam de 3,5 a 7 milhões de indivíduos.




Fundação da colônia


Início de perfuração do solo pela Rainha

Anualmente, os formigueiros adultos de Atta e Acromyrmex produzem formigas aladas - machos e fêmeas, que saem para criar novas colônias e perpetuar a espécie.

No Sudeste e Centro Oeste, esse fenômeno ocorre de setembro a dezembro e, no Sul, vai de junho a dezembro. São épocas que coincidem, em boa parte, com o início do período das chuvas e com a fase mais quente do ano.

A fêmea da saúva (rainha, tanajurá ou icá) é fecundada por 3 a 8 machos (bitus), durante um vôo nupcial. Em seguida, ela desce ao solo e arranca suas asas, enquanto os machos morrem.

Em seguida, a rainha começa a perfurar o solo, onde abre um canal com profundidade de 8 a 25 cm, ao final do qual ela constrói uma câmara inicial.
Depois de se acomodar lá dentro, a rainha veda o canal com terra escavada na própria câmara e, desse modo, está fundada uma nova colônia: de início, apenas a rainha e sua câmara, cuja construção dura aproximadamente 10 horas.

Nessa fase de vôo nupcial e abertura de uma câmara no solo, a mortalidade de içás é muito alta. Em Atta sexdens rubropilosa, por exemplo, alcança 99,95%. Ou seja, a cada 1000 fêmeas geradas por essa espécie, somente 5 permanecem vivas e criam uma nova colônia adulta.


100 dias

Antes de sair da "colônia mãe" para o vôo nupcial, a içá aloja uma pelota de fungo na cavidade infrabucal. Logo depois que se fecha na câmara inicial, deposita no chão essa pelota de fungo e começa a cultivá-lo com suas próprias fezes e secreções.

A fêmea ficará assim, enclausurada, por 80 a 100 dias. Nesse tempo, ela põe dois tipos de ovos: os ovos grandes, que servirão para alimentar as larvas, e os ovos pequenos, que dão origem às operárias - tanto jardineiras como carregadeiras.

Tarefas Iniciais das Operárias - Cuidar do fungo, das larvas, da limpeza própria e da rainha, e transportar a prole dentro da câmara.


Expansão da colônia
  
Depois dos 100 dias, as primeiras operárias cortadeiras/carregadeiras retiram a terra que veda o canal e saem para cortar folhas, ampliando a cultura de fungo. Mas somente depois de 421 dias elas abrião um segundo orifício (olheiro) na colônia e a partir daí o sauveiro expande-se rapidamente.

À medida que a colônia cresce, a rainha coloca os ovos que dão origem a operárias de diferentes tamanhos e, também, ovos para a geração de novas rainhas e machos. Os ovos para produção de machos não são fertilizados e, em algumas espécies, as operárias também podem colocar ovos não fertilizados.


Alimentação das formigas

Normalmente, as saúvas e quenquéns fazem o corte das folhas durante a noite. Em locais sombreados, no entanto, esse trabalho pode ocorrer durante o dia. Já, durante o inverno, o corte acontece somente durante o dia.

As responsáveis por essa atividade forrageira são as formigas operárias e cada uma cuida integralmente da tarefa: vai até o local de corte, sobe na planta e corta o fragmento de folha, transportando-o para o ninho.

Entre as operárias da Atta sexdens rubropilosa, às vezes essa atividade segmenta-se: algumas sobem nas plantas, cortam as folhas e deixam-nas cair no solo; em seguida, outras transportam esses pedaços para o ninho.


O cardápio

As formigas cortadeiras cortam as folhas de uma grande quantidade de plantas. No entanto, elas são seletivas e têm clara preferência por determinadas espécies - como eucalipto, citros, cana-de-açúcar, soja e café, entre outras.

Alguns pesquisadores falam que elas também preferem plantas cultivadas a plantas nativas. Mas, independente disso, há um cardápio predileto das cortadeiras: folhas jovens, partes tenras das folhas e flores. Apesar disso, ainda carregam folhas maduras e secas caídas ao chão, fezes de animais, papéis, sementes, plásticos, etc.

A preferência por diferentes materiais varia entre as espécies ou até entre colônias de uma mesma espécie. Na verdade, as formigas não se alimentam das folhas cortadas, que servem apenas para cultivar o fungo com o qual elas realmente se alimentam.


A fábrica de fungos

Dentro do formigueiro, as operárias cortam as folhas em pequenos pedaços, que são "lambidos" pelas formigas, antes de receberem a inoculação do fungo.

Esse processo é bastante parecido com o cultivo de plantas em uma horta. Ou seja, o esterco usado na horta corresponde às folhas cortadas pelas formigas e as hortaliças representam o fungo cultivado pelas formigas.

    Quando lambem os pequenos pedaços de folhas, as operárias ingerem sua seiva e minúsculas partículas vegetais, que passam pelo filtro da sua cavidade oral


    Arquitetura de um formigueiro (Atta- Saúvas)

    Foto: Prof. Dr. Luiz Carlos Forti - UNESP Botucatu

    As colônias de saúvas são as maiores entre os insetos sociais e o conhecimento de sua arquitetura é aspecto fundamental para se efetuar um controle eficaz do inseto.

    Uma colônia de saúva configura-se como uma rede de câmaras escavadas no solo, interligadas por canais (túneis).

    Essas câmaras (também chamadas de "panelas") têm papel estratégico, pois nelas as formigas cultivam o fungo que alimenta todo o formigueiro.

    As câmaras também são usadas para alojar ovos, larvas, pupas, operárias, rainha e, se a colônia for adulta, as formas aladas - bitus e içás (durante uma fase do ano).

    O murundum

    Externamente, o formigueiro torna-se visível pela grande quantidade de terra escavada proveniente das câmaras, túneis, trilhas e canais de abastecimento. O aspecto desse acúmulo de terra escavada (murundum) varia de espécie para espécie.

    Por exemplo:
    • O murundum da Atta sexdens possui terra solta;
    • Com a Atta laevigata o murundum é convexo, dando a impressão de estar bem compactado. Às vezes coberto por vegetação e com orifícios de entrada de folhas.
    Toda terra depositada vem do subsolo e sua deposição é mais intensa em certas épocas do ano. Geralmente, nos meses que antecedem a revoada das içás e bitus o carregamento de terra intensifica-se.

    Por outro lado, o carregamento é praticamente nulo de dezembro a abril e por isso é bem mais difícil saber se a colônia está viva ou morta, nesse período.

    Formigueiros jovens depositam pouca quantidade de terra na superfície do solo. Mas, durante o segundo e terceiro anos de vida, a deposição de terra solta acentua-se.



    Organização social

    A população de um sauveiro é composta por indivíduos morfologicamente diferentes, cujo tamanho está relacionado à sua função na colônia - e também à idade, no caso específico das operárias.

    Na colônia existem castas de reprodutores e de operárias. Nelas, há dois tipos de formigas:
    • As permanentes - como a rainha (fundadora da colônia) e as operárias (fêmeas assexuadas);
    • E as temporárias, como é o caso das formigas sexuadas aladas - bitus (machos), içás e tanajuras (fêmeas).

    Veja como é o organograma das castas de um formigueiro:

    A rainha

    A rainha é a fêmea que produz os ovos, na colônia. Ela também é conhecida por içá ou tanajura e durante o ano inteiro, por toda sua vida, colocará ovos para a produção das operárias estéreis - as jardineiras, cortadeiras, escoteiras e/ou carregadeiras e soldados.

    Apenas durante um período do ano ela colocará ovos para produzir novas rainhas e machos (mais bitus, menos içás), que sairão do formigueiro para fundar novas colônias, de setembro a dezembro.

    As operárias

    A grande população dos sauveiros é constituida pelas operárias, que são formigas ápteras e estéreis, cuidam da alimentação de toda a colônia e podem ser divididas em 4 categorias: soldados, generalistas, cortadeiras e escoteiras. Veja:

    • As operárias grandes são chamadas de soldados e fazem a defesa da colônia;
    • As operárias médias são as cortadeiras/carregadeiras, elas cortam e transportam os pedaços de folha para o interior do formigueiro;
    • As operárias menores são as jardineiras e, juntamente com as generalistas, elas picam os pedaços de folha em minúsculos pedacinhos, que então depositam na cultura de fungo ("esponja de fungo");
    • Depois, elas inoculam micélios de fungo nesses pedacinhos de folha e neles passam a cultivar o fungo propriamente dito.

    As castas do formigueiro
    LARGURA DA CABEÇA (MM)
    DESCRIÇÃO
    TAREFAS TÍPICAS MAIS COMUNS
    IMAGEM
    1,0
    Jardineiras ou enfermeiras, com no máximo 2mm de comprimento de corpo
    Cuidam do jardim de fungo, incorporam os vegetais na cultura de fungo, inoculam hifas de fungo no novo substrato, lambem as partículas vegetais, limpam e alimentam outros indivíduos.
    1,4
    Generalistas - são médias ou pequenas e trabalham dentro do ninho.
    Cortam os vegetais dentro do ninho, incorporam vegetais na cultura de fungo, lambem os vegetais, cuidam da rainha e levam partículas de vegetal exaurido para as câmaras do lixo.
    2,2
    Forrageiras e escavadoras(formigas médias a grandes)
    São escoteiras, recrutam outras formigas, cortam e transportam vegetais, escavam o ninho.
    3,0
    Soldados
    Defendem o ninho.
    2,9
    Machos (bitús)
    Fertilizam a rainha

    5,2
    Rainhas (içás, tanajuras)
    Fundam as colônias, produzem vários tipos de ovos e propagam a espécie.





























    O ciclo de vida de uma operária

    Os ovos de uma operária eclodem entre 14 e 22 dias, na espécie Atta sexdens rubropilosa. Dessa fase de ovo até chegar à fase adulta, o período de aproximadamente 55 dias, mas veja na tabela 2 o ciclo completo das operárias, fase a fase.

    PERÍODOS DO CICLO
    TEMPO DE DURAÇÃO (DIAS)
    Período de incubação dos ovos
    25
    Período larval
    22
    Período pupal
    10
    Longevidade máxima da operária cortadeira
    120
    Longevidade máxima da operária soldado
    390
    OBS.: na fundação de uma colônia, as primeiras operárias adultas surgem após 66 dias.


    Fonte: adaptado http://www.mirex-s.com.br/



    Assista também os vídeos, são didáticos e interessantes.


    Conheça as formigas cortadeiras - Saúva

    As saúvas - Uma sociedade de formigas (parte 1)

    As saúvas - Uma sociedade de formigas (parte 2)

    Pesquisador brasileiro estuda como as formigas cortadeiras...



    7 comentários:

    1. Respostas
      1. Obrigado!
        Apesar do material não ser meu, achei que seria interessante compartilhar.

        Excluir
    2. leandro pode existir formiga rainha pequena???

      ResponderExcluir
    3. leandro pode existir formiga rainha pequena

      ResponderExcluir
    4. chique só não acho uma rainha na minha região, eu vou procurar perto de fazenda

      ResponderExcluir
    5. Bem legal leandro ! acesse meu blog, sou mirmecólogo iniciante, se você gostar, quem sabe role uma parceria hehe :)
      http://formigueiroparaense.blogspot.com.br

      ResponderExcluir
    6. gostaria de comprar uma rainha mas nao encontro ninguem vendendo pois aki a revoada demora no interior do nordeste ta muito seco e nao chove a meses

      ResponderExcluir